Em meio à desordem de papéis e instrumentos de trabalho que
contrastam com a organização do escritório, um homem maduro de barba rala
debruçado sobre um notebook segura um crânio, olha fixamente para certas
protuberâncias, gira, olha de novo, finalmente levanta-se calmamente e o coloca
em uma estante onde há vários outros crânios esbranquiçados.
A Serra da capivara no Piauí reserva biológica, lugar
misterioso e belo, guarda segredos pré-históricos, o Dr. José O. Penski
cientista catarinense já há algum tempo trabalha em estudo de fósseis
humanos em comunidades pré-históricas na
região do semiárido nordestino.
Quão surpresos não ficaram os colegas de Brasília, quando
ouviram no noticiário sobre o desmoronamento do grande paredão lateral na
serra, as chuvas de janeiro, já haviam feito inúmeras vítimas em várias partes
do país. Houve comoção nacional, quando se soube do desaparecimento do corpo do
brilhante pesquisador, no meio de toneladas de rocha, lama e detritos que a
enxurrada levou junto com galhos e parte das instalações.
Durante semanas a defesa civil e o corpo de bombeiros
trabalharam sem cessar com equipes de voluntários, e ajuda que vinha de todas
as partes do país. Houve poucos mortos e feridos em comparação com outras
catástrofes no Rio e Santa Catarina.
O corpo do famoso cientista nunca foi encontrado, ele que
estudava fósseis, dormiria para sempre entre os objetos de seu estudo, entre
aqueles que viveram e morreram a milhares de anos nessas terras. Os jornais
ingleses, franceses, a imprensa mundial divulgou notas sobre o caso lamentável
e fizeram grandes homenagens aos mortos. O caso serviu para que o governo
investisse mais em prevenção de enchentes no país, mas essas não deixaram de
ocorrer com mais frequência até.
Segundo Carl Sagan na sua famosa série Cosmos, se a história
do Universo fosse colocada em um ano, ou seja, 365 dias nós seres humanos, homo
sapiens só teríamos surgido nas últimas horas do último dia do ano cósmico.
Assim se passaram
semanas, meses, anos, séculos, milhares de anos e nossa civilização mudada,
alterada, transformada, deixa o planeta em busca de melhores condições no
espaço, coloniza o sistema solar, vive ao abrigo de naves-cidade no sub-orbital
de planetas grandes como Saturno e júpiter, hotéis de luxo para magnatas com
vista para o Cinturão de asteroides, o firmamento bíblico, e colônias baratas
no esqueleto de antigas e sucateadas estações orbitais estatais de países
asiáticos, enquanto que a ISS com parte da velha MIR virou um museu fantasma
para viciados e marginais do espaço.
A terra se recuperava da presença humana e quase ninguém
pensava em vir aqui, quando uma equipe de pesquisadores de origem desconhecida
pousava no nordeste, antigo semiárido, agora um cerrado semelhante à savana
africana, após algumas buscas encontraram com ajuda de radares, diversos corpos
que identificaram como sendo de humanos primitivos que habitaram a região há
milhares de anos, estavam diante de fósseis humanos, talvez ancestrais dos que
abandonaram este planeta e que são tão exóticos que merecem ser estudados,
assim foi como o famoso paleontólogo foi parar numa caixa de vidro, junto com
outros fósseis esbranquiçados, amarelados...