Um certo dia, todos os animais racionais, num
processo de consciência coletiva e unânime, perceberam que a Verdade nunca
esteve aqui, que ela nunca existiu no sentido literal da palavra, no sentido do
que de fato ela representa.
Foi com certeza um dia muito estranho, pois todos,
todos mesmo, saíram de suas casas e começaram a chamar pela Verdade, foram
tantos os pedidos, foram tantas as súplicas, que a Verdade se comoveu e
resolveu atender o chamado, afinal, todos os animais racionais estavam reunidos
nesta intenção, algo bastante incomum, ato que merecia atenção.
A Caminho da Terra, a Verdade sorria, e se sentia
desejada, fantasiou as diferentes recepções que teria e ficou mais satisfeita
ainda.
A Verdade se manifestou diante de todos, imaginando
que ao vê-la todos viriam em sua direção, consternados e agradecidos. Mas
quando os animais racionais viram a Verdade diante deles, correram todos para
suas casas.
A Verdade estranhou, mas pensou:-
Oras! Eles não acreditavam que eu
pudesse vir, devem ter corrido para suas casas, para preparar uma recepção de
acordo para mim.
Ela aguardou algum tempo, e vendo que ninguém se
manifestava, resolveu bater de porta em porta, mas para seu espanto, ninguém
abriu nenhuma porta, ninguém nem sequer respondeu.
Todos os animais racionais ficaram apavorados com a
presença da Verdade, pensando no horror que seria, caso ela entrasse.
Não foi preciso muito tempo para que a Verdade entendesse;
que não era, não é, e nem será bem vinda. E assim do mesmo jeito que ela veio
ela partiu.
Moral
da estória: Todos clamam pela Verdade! Mas se ela vier! Quem vai querer ouvi-la?
Quem de fato não esconde nada?
Marise Muniz