domingo, 28 de outubro de 2012

Poemas enlouquecidos de Setembro / Luciano Alonso















Deixarei meus afazeres
Para escrever poemas e contemplar a lua?

II
Sou um viajante.
Estou aqui de passagem.
Vou ficar só uns 80 ou 90 anos.

III
Odeio gente louca.
Não gosto da concorrência.

IV
Chuva é coisa que inspira poeta
Sobremaneira dos lados do inconsciente.

Meu pai não gosta de neurociências,
Diz “ Esse menino tem cada ideia!”
Li os russos também, principalmente Dostoiévski.
A alma russa...
Que coisa.
Mas agora acho que estou melhor.

O Henry me disse que o psiquiatra dele é legal,
Quer me apresentar.
“Olá muito prazer” “O prazer é meu” “Você gosta de Jung?
“Associação livre é legal, mas pode ser catarse também...”

Eu não sou louco, eu nego.
Todas as minhas bestas interiores foram domesticadas.
Ao menos aquelas que poderiam ser.
E nas profundezas é que se encontram os maiores tesouros.
Mas é lá que se encontram as bestas mais terríveis.

Tudo bem eu não gosto da superfície mesmo.
Encontrei grandes tesouros nas profundidades e nas alturas.
O superficial me causa tédio.

V

Minhas células celebram a sua presença
Na órbita dos meus abraços.

Meus pensamentos são todos seus.
Os pulsos do meu coração
Seguem os movimentos do seu cabelo
Ao fluxo do vento
Ou os compassos da sua voz melodiosa.

Mas quem se lembrará desse seu sorriso lindo
Quando depois de voltarmos ao pó da terra
A vida seguir seu fluxo?

E os nossos átomos se juntarão ao pó da terra
E serão sugados pelas raízes das plantas viçosas
Que os tornarão em seiva.

E os nossos átomos tornados seiva,
Logo será néctar.
O colibri o aguardará.

Como eu aguardo seus beijos.

VI

Com a serenidade da seiva
E a velocidade do relâmpago
Deslumbro o misterioso semblante da noite.

Ao passo que o vento
Sabiamente preconcebido
E perfeitamente desencadeado
Faz ondular ligeiramente a superfície das águas.

Causando em minha mente a comoção das forças
Há muito suprimidas.

VII

Hoje estou apto a poemas e outras excentricidades.
Comi bolo de morango.
E a chuva irrompe dos lados do Sul.
Sinto cheiro da chuva da infância.
Ta no meu sistema límbico, eu vi na TV.
Essa chuva não é a mesma chuva
Por que eu não sou mais o mesmo menino
 Que ia a pé pra escola com a mesma calça jeans
E que no caminho ficava olhando os passarinhos na velha estrada de ferro.
Eu cresci
E não perdi o lirismo.
Virei poeta.
Virei artista.
Ai de mim!
To fudido.
Tenho que arrumar uma grana pra pagar os credores.