Deixarei meus afazeres
Para escrever poemas e
contemplar a lua?
II
Sou um viajante.
Estou aqui de passagem.
Vou ficar só uns 80 ou 90
anos.
III
Odeio gente louca.
Não gosto da concorrência.
IV
Chuva é coisa que inspira
poeta
Sobremaneira dos lados do
inconsciente.
Meu pai não gosta de
neurociências,
Diz “ Esse menino tem cada ideia!”
Li os russos também,
principalmente Dostoiévski.
A alma russa...
Que coisa.
Mas agora acho que estou
melhor.
O Henry me disse que o
psiquiatra dele é legal,
Quer me apresentar.
“Olá muito prazer” “O prazer
é meu” “Você gosta de Jung?
“Associação livre é legal,
mas pode ser catarse também...”
Eu não sou louco, eu nego.
Todas as minhas bestas
interiores foram domesticadas.
Ao menos aquelas que poderiam
ser.
E nas profundezas é que se
encontram os maiores tesouros.
Mas é lá que se encontram as
bestas mais terríveis.
Tudo bem eu não gosto da
superfície mesmo.
Encontrei grandes tesouros
nas profundidades e nas alturas.
O superficial me causa tédio.
V
Minhas células celebram a sua presença
Na órbita dos meus abraços.
Meus pensamentos são todos
seus.
Os pulsos do meu coração
Seguem os movimentos do seu
cabelo
Ao fluxo do vento
Ou os compassos da sua voz
melodiosa.
Mas quem se lembrará desse
seu sorriso lindo
Quando depois de voltarmos ao
pó da terra
A vida seguir seu fluxo?
E os nossos átomos se
juntarão ao pó da terra
E serão sugados pelas raízes
das plantas viçosas
Que os tornarão em seiva.
E os nossos átomos tornados
seiva,
Logo será néctar.
O colibri o aguardará.
Como eu aguardo seus beijos.
VI
Com a serenidade da seiva
E a velocidade do relâmpago
Deslumbro o misterioso
semblante da noite.
Ao passo que o vento
Sabiamente preconcebido
E perfeitamente desencadeado
Faz ondular ligeiramente a superfície
das águas.
Causando em minha mente a
comoção das forças
Há muito suprimidas.
VII
Hoje estou apto a poemas e
outras excentricidades.
Comi bolo de morango.
E a chuva irrompe dos lados
do Sul.
Sinto cheiro da chuva da
infância.
Ta no meu sistema límbico, eu
vi na TV.
Essa chuva não é a mesma
chuva
Por que eu não sou mais o
mesmo menino
Que ia a pé pra escola com a mesma calça jeans
E que no caminho ficava
olhando os passarinhos na velha estrada de ferro.
Eu cresci
E não perdi o lirismo.
Virei poeta.
Virei artista.
Ai de mim!
To fudido.
Tenho que arrumar uma grana
pra pagar os credores.